Família do Marajó planeja criar primeira universidade dedicada ao búfalo no Brasil

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A Ilha de Marajó, no Pará, pode ganhar em breve a primeira universidade do búfalo do país. A proposta parte da família Gouvêa, dona da Fazenda e Empório Mironga, que há décadas produz leite, queijo e mantém um rebanho de destaque na região.

Se sair do papel, o futuro Centro de Estudos da Bubalinocultura vai concentrar investigação sobre genética, manejo, produção de leite, couro e carne de búfalo. A ideia também envolve turismo pedagógico, área em que a fazenda já acumula experiência desde 2017.

Projeto de universidade do búfalo ganha forma na Ilha de Marajó

O produtor rural Carlos Augusto Gouvêa, mais conhecido como Tonga, explica que a universidade do búfalo nasceu de uma necessidade prática: “Precisamos de gente estudando melhoramento genético, sanidade e agregação de valor ao leite, à carne e ao couro. Esse centro não seria restrito a veterinários ou agrônomos. Queremos atrair biólogos, tecnólogos de alimentos, profissionais de turismo e até médicos”.

A fazenda localiza-se em Soure, município que, ao lado de Chaves e Cachoeira do Arari, concentra a maior parte dos estimados 650 mil a 800 mil búfalos do arquipélago. Hoje, estátuas do animal dividem espaço com charretes, patrulhas policiais montadas e cardápios recheados de filé mignon com queijo de búfala, símbolos onipresentes do território marajoara.

Por que estudar o búfalo?

Apesar da presença marcante, a literatura científica sobre bubalinocultura no Brasil ainda é escassa. Pesquisas poderiam acelerar o melhoramento genético, reduzir custos de produção e ampliar mercados para derivados como mozzarella e doce de leite. A família Gouvêa acredita que um ambiente acadêmico permanente pode preencher essa lacuna e transformar o Marajó em referência continental.

Vivência Mironga alia turismo pedagógico à produção artesanal

Enquanto a universidade do búfalo é planejada, a Fazenda Mironga mantém a Vivência Mironga, programa de turismo pedagógico criado há seis anos. Visitantes acompanham a ordenha, participam de oficinas de queijo e conhecem práticas agroecológicas aplicadas nos 90 hectares da propriedade.

De acordo com Gabriela Gouvêa, filha de Tonga e presidente da Associação dos Produtores de Leite e Queijo do Marajó (APLQM), o turismo já responde por dois terços da receita da fazenda. “Em setembro, recebemos 400 visitantes, recorde absoluto”, afirma. A limitação de área levou a família a frear a expansão da produção de laticínios e investir em experiências imersivas, ação que também atrai leitores do Explore Viagem em busca de roteiros autênticos na Amazônia.

Queijo do Marajó conquista reconhecimento oficial

O queijo do Marajó tem origem secular, elaborado com leite cru e técnicas passadas de geração em geração. Após um processo que envolveu diagnósticos sanitários, treinamentos e adequações estruturais, a queijaria da Mironga tornou-se, em 2013, a primeira da região a receber inspeção oficial.

Anos depois, o produto garantiu a Indicação Geográfica (IG) concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial, valorizando ainda mais o território e reforçando a importância de pesquisas continuadas sobre qualidade e rastreabilidade.

Desafios ambientais da bubalinocultura

Mesmo com relevância econômica e cultural, a criação de búfalos enfrenta o desafio de reduzir emissões de gases de efeito estufa. Dados de 2023 do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) apontam a pecuária como a segunda maior fonte de emissões no Brasil, atrás apenas das mudanças de uso da terra.

Os búfalos, inseridos na categoria de bovinos, liberam metano durante a digestão. Foram 405 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente emitidas pelo setor no último levantamento. É nesse ponto que o futuro Centro de Estudos da Bubalinocultura pretende atuar, investigando formas de mitigação e manejo sustentável, tópico central da próxima COP30.

O que pode mudar com o centro de estudos

A criação da universidade do búfalo promete reunir acadêmicos e produtores em torno de soluções concretas para produtividade, bem-estar animal e pegada ambiental. Além de laboratórios e salas de aula, a proposta inclui espaços de extensão, fortalecendo a relação entre ciência e comunidade local.

Próximos passos e expectativa da comunidade

Embora ainda não exista data definida para a inauguração, a família Gouvêa trabalha em busca de parcerias com universidades públicas, instituições de fomento e empresas de tecnologia. O objetivo é viabilizar infraestrutura e corpo docente, somando pesquisadores da região Norte e de outros estados.

Para os moradores de Soure e turistas que desembarcam na ilha, a notícia acende expectativas: será possível conciliar ciência, tradição e economia criativa em um mesmo espaço? Se você planeja conhecer de perto a cultura bubalina, vale ficar de olho nas próximas etapas desse projeto e, quem sabe, encaixar a Vivência Mironga no roteiro.

Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil